No último dia 31 de maio de 2025, o Paris Saint-Germain(PSG) fez história ao conquistar sua primeira Champions League com um massacre de 5 a 0 sobre a Inter de Milão, na Allianz Arena.
Mais do que uma conquista, o jogo foi mais um lembrete: a Europa domina o futebol mundial. Mas por quê?
Por que o futebol europeu é mais forte que o sul-americano hoje?
Siga o BRG365 para entender como estilo de jogo, torcida, gestão, formação e até leis moldaram dois mundos completamente distintos.

Como jogam sul-americanos e europeus
O futebol sul-americano é puro improviso. Pelé, Maradona, Ronaldinho, Messi… todos nascidos em contextos onde a rua era o campo e o drible era sobrevivência.
A magia do futebol daqui está em deixar o adversário tonto com um toque genial — e isso não se treina com cones, nasce da vivência. Neymar é o exemplo moderno disso.
Na Europa, o jogo é mais racional. La Masia (Barcelona) e Clairefontaine (França) moldam jogadores como se fossem engenheiros de precisão.
Tudo é planejado: posicionamento, intensidade, leitura de jogo. Até os chutes são avaliados por algoritmos, com base em dados como o xG (expected goals).
Aquele 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil em 2014 foi didático: um coletivo perfeito atropelando uma equipe que dependia de lampejos individuais.
Mas será que um precisa anular o outro? O futebol europeu é engenharia. O sul-americano, arte. Nada supera a emoção de ver um elástico bem dado no meio de três marcadores.
Copa do Mundo de 2014: Alemanha 7 x 1 Brasil(BRG365)
Como é a torcida aqui e lá fora
Quem já sentiu a Bombonera vibrar ou presenciou o Maracanã em dia de decisão sabe: torcer na América do Sul é um ato de fé. Bandeiras gigantes, fogos, cantos intermináveis.
É como se o estádio fosse um templo e o torcedor, um sacerdote da paixão. A torcida do Flamengo, por exemplo, transforma quarta-feira comum em final de Copa.
Na Europa, o ambiente é outro. Estádios como a Allianz Arena, o Emirates ou o reformado Bernabéu oferecem conforto, grama de alto padrão, painéis de LED e cerveja gelada.
A experiência é boa e monetizada até o último centavo — do ingresso ao cachecol oficial.
Mas será que essa modernização mata a alma do jogo? Talvez um pouco. Porque aqui, o estádio é extensão da favela, do bairro, da comunidade. Lá, virou franquia.
Admiro a eficiência europeia. Mas confesso: prefiro o caos organizado da arquibancada sul-americana, onde o grito de gol é mais gritado e a derrota mais sofrida. Paixão não se mede em número de wi-fis por setor.
Torcedores na Bombonera para Boca Juniors x River Plate(BRG365)
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Por que os clubes da Europa são melhores
A gestão de clubes sul-americanos segue enfrentando barreiras estruturais importantes.
Mesmo com receitas expressivas, como no caso do Flamengo — que movimenta centenas de milhões de reais anualmente — o nível de endividamento permanece elevado.
Para equilibrar as finanças, tornou-se prática recorrente negociar atletas das categorias de base ainda muito jovens, muitas vezes antes mesmo de atingirem a maturidade esportiva.
Na prática, os clubes sul-americanos operam como verdadeiras plataformas de exportação de talentos, onde o objetivo imediato é gerar receita, e não necessariamente construir elencos competitivos no longo prazo.
Isso limita o retorno técnico nas competições locais e continentais. Em contraste, o modelo de negócios no futebol europeu é bem mais estruturado.
O Real Madrid, por exemplo, figura entre os clubes europeus mais ricos do mundo, avaliado em mais de US$ 6 bilhões, com receitas diversificadas — de bilheterias a direitos de imagem e produtos licenciados.
A Bundesliga implementa a regra do “50+1”, preservando a participação dos torcedores na gestão. Já o Ajax, referência em sustentabilidade, forma até cinco atletas por temporada e reinveste no próprio sistema.
Essa diferença estrutural ajuda a explicar por que os clubes europeus mantêm vantagem competitiva sobre seus pares sul-americanos nas principais disputas internacionais.
O Palmeiras vendeu Endrick para o Real Madrid(BRG365)
Como cada continente forma seus craques
No Brasil, o moleque aprende a driblar antes de andar.
Joga na rua, com chinelo como trave, bola de meia e criatividade como regra. Foi assim com Ronaldinho, Neymar, Suárez… o futebol sul-americano forma artistas, não apenas atletas.
Mas a Europa virou especialista em lapidar talento com ciência. Em centros como a La Masia ou as academias alemãs, jogadores tocam na bola milhares de vezes por dia.
Tudo é treinado: tempo de reação, decisão sob pressão, mapa de calor. A inteligência artificial virou ferramenta diária. Analisam cada passe, cada chute, cada desarme.
Resultado? Clubes da Champions acertam 55% dos chutes a gol. Na Libertadores, esse número cai para 35%.
Felizmente, isso já começa a mudar por aqui. O Atlético-PR é pioneiro na adoção de ciência de dados no futebol brasileiro — e já colhe resultados.
O futuro está na fusão. Que tal um Neymar com o cérebro tático do De Bruyne? Ou um Vinícius Jr. com o senso de posicionamento do Modric?
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O que a Lei Bosman mudou no futebol
Em 1996, uma decisão judicial mudou tudo.
Jean-Marc Bosman venceu um processo contra seu clube, e nasceu a chamada Lei Bosman, que permitiu a qualquer jogador europeu sair livremente ao fim do contrato.
Mais do que isso: atletas da União Europeia deixaram de ser considerados estrangeiros.
Resultado? Os clubes europeus passaram a contratar quem quisessem, quando quisessem, sem limites.
Naquele momento, o futebol mundial virou desequilibrado. De 1996 para cá, foram 23 títulos mundiais para a Europa. A América do Sul? Apenas 6. E a última vitória foi em 2012, com o Corinthians.
Antes da lei, a América do Sul era competitiva: Boca, São Paulo, Peñarol brigavam de igual para igual. Depois dela, passaram a ser figurantes de luxo.
O que parecia uma questão burocrática virou um terremoto no futebol.
E enquanto os europeus compram os melhores, nós seguimos vendendo com 17 anos, sem conseguir segurá-los nem por uma temporada decente.
Jean-Marc Bosman nos tribunais(BRG365)
O que o futebol representa em cada lugar
Na América do Sul, futebol é sonho, fuga, redenção. Messi enfrentou problemas hormonais em Rosario. Neymar saiu de Mogi das Cruzes e virou ídolo global.
Aqui, a bola é escada social. Cada campo de terra é uma chance de mudar o destino.
Nos anos 1950, o Brasil foi pioneiro ao colocar negros na Seleção. O futebol virou símbolo de uma identidade nacional inclusiva. Um espaço onde raça, classe e origem se encontram — ao menos por 90 minutos.
Na Europa, o futebol é um símbolo de pertencimento coletivo. O Borussia Dortmund representa o operariado do Vale do Ruhr.
O Celtic carrega a herança irlandesa na Escócia. Clubes como o Barcelona mantêm fundações sociais, projetos com refugiados e programas educacionais.
Lá, o futebol reforça o que a comunidade já é. Aqui, o futebol é o que muitos esperam ser.
Ambas as culturas são ricas. Mas na América do Sul, ainda deixamos talento escapar por falta de estrutura. E isso não é justo nem com o jogador, nem com o torcedor.
O futebol de rua brasileiro(BRG365)
O que podemos aprender com tudo isso
O contraste entre o futebol sul-americano e o europeu vai além do campo: envolve gestão, formação, cultura e estratégia. Enquanto um valoriza o improviso e a paixão, o outro aposta na estrutura e eficiência.
Mas essas abordagens não são excludentes. O futuro do futebol mundial pode estar na combinação de ambos: talento criativo com disciplina tática.
Entender como o futebol europeu e sul-americano podem se complementar é essencial para construir um jogo mais competitivo, sustentável e global.
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